quinta-feira, 22 de abril de 2010

Sábado de sol com o Marildo!!!!

Era um lindo sábado de sol e eu (Bru) e a Karlis fomos levar o lixo reciclado. É sempre “divertido” levar o reciclado porque passamos na frente do bar do Juarez, com caixas de leite pingando, rolos de papel higiênico e latinhas de cerveja amassadas. Só pra contextualizar, o Juarez oferece uma das melhores e mais caras picanhas de São Paulo e sua clientela é, digamos, de classe alta, de Moema. Enfim, sob o olhar dos nossos vizinhos, ligeiramente diferentes da gente, e com aquele cheiro de picanha na brasa, passamos por lá com aquela cara de cachorro faminto tentando disfarçar o pinga pinga do lixo... De repente, em frente ao Juarez, avistamos um salão de cabeleireiro com um preço normal (diferente do preço alto do bairro) e não pensamos duas vezes antes de marcar cabelo (karlis) e pé (eu).
Voltamos no horário marcado e pediram para aguardarmos na sala de espera (eram apenas duas cadeiras), e logo fomos pegar alguma coisa pra ler. O que tinha disponível para relaxar enquanto não eramos atendidas era o jornal Agora (um dos mais sensacionalistas dos impressos) e já estavamos assustadas com tanto assasinatos e roubos que estavamos lendo (detalhe - a Karlis morava em sampa há pouco mais de um mês, e já estava revendo se valia a pena fixar moradia nessa cidade de bandidos e estupradores).
Nisso veio uma senhora de meia idade, bem suada, e se identificou como manicure, me chamando pra uma salinha ao lado. Deixei a Karlis, com uma cara de terror lendo o jornal do Datena em versão impressa, e sentei ao lado de uma menina de no máximo 16 anos que colava as maiores unhas postiças que vi na vida. Eu mal tinha sentado e entrou uma mulher aos berros, gritando mesmo, chamando a Dirce, que a cliente dela estaria esperando. A manicure avisou que a Dirce tinha passado mal, e estava deitada lá em cima. DEITADA????????? DIRCEEEEEE VEM CAAAAAAAAA, SUA CLIENTE CHEGOU... VEEEEEMMMM LOGOOO, LEVANTAAAAA POWWWW... a gritaria gerou um certo desconforto, as clientes se olhavam, mas o pessoal do salão parecia não se importar e continuavam DIRRRCEEEEEEE DESCE AQUIIIIIIIIIIIII A MENINA TÁ TE ESPERANDOOOOOOO, CACETEEEEE. Fiquei mais incomodada ainda quando descobri que a menina que estava esperando era a Karlis, ri muito.
Minha mãe sempre fala pra não usar alicate em salão, pra verificar se está esterelizado. Nunca falo nada, mas a menina de 16 anos tinha os pés mais feios e cascudos da minha vida, o namorado dela de 60 anos mandando ela pintar as unhas de vermelho cintilante também me gerou um certo nojo e acabei perguntando se eles esterelizavam os alicates, e a manicure me respondeu que sim, claro, retirando o alicate do bolso do avental ...
Nisso entra uma cliente (vulgo Dercy Gonçalves) com o cabelo metade feito e metade molhado surtando na salinha das unhas...ELA TAVA QUASE TERMINANDO MEU CABELO E TEVE QUE PARAR PRA FAZER O CABELO DAQUELA MENINA, PQP, NUNCA MAIS VOLTO AQUI... e ela começou a quase chorar e continou o escândalo, ELA PÁRA O MEU PRA FAZER O DA OUTRA, QUEM AQUELA MENINA É PRA ELA PASSAR NA MINHA FRENTE, HEIN????
Pensei na Karlis de novo e engoli a risada mais uma vez... a manicure estava literalmente detonando meu dedão e me tirou tantos bifes que quase acabou com o pozinho de fazer parar de sangrar... e eu só lembrava da minha mãe falando NÃO VAI USAR ALICATE SEM ESTERELIZAR, VC VAI PEGAR UMA DOENÇA, BATER A CABEÇA E MORRER...
A Karlis entrou na sala, eu mal reparei no cabelo dela, eu estava com muita dor, ela falou que já ia embora, quase fui junto, mas o meu pé ainda estava sendo mutilado...comecei a reparar que a manicure estava suando demais e nem tava tão calor... nisso ela levantou a cabeca e estava encharcada... estava na menopausa, até me pediu desculpa enquanto limpava o rosto com a toalha que estava embaixo do meu pé, pingando uma gota de suor no meu dedão aberto, juro, nessa hora já estava pensando onde faria um exame de sangue geral – quando ela colocou a mão no bolso e deu um grito de dor, tirou a mão com o alicate grudado no dedo, me senti no Jogos Mortais.
Ela sujou a toalha inteira de sangue e, em meio ao sangue dela, o meu e o suor pingando em tudo isso, eu sai quase que correndo de lá... mal olhei para o meu pé. Chegando em casa, ainda assustada com os gritos, sangue e suor, encontrei a Karlis com o cabelo preso e quando ela soltou para me mostrar, a franja ficou reta, só que pra cima, dura... ela não sabia o que fazer porque estava saindo para ir no casamento da chefe... ainda estava com dor de cabeça de tanto puxarem o cabelo dela e me confessou que tinha certeza que classificaram o cabelo dela como afro. A escova deixou o cabelo dela tão duro que tivemos que dar um jeito em casa pra não parecer uma peruca de playmobil. Ela quase perdeu o couro no salão e teve que fazer hidratação durante meses pra recuperar o cabelo.
Quando olhamos no meu pé percebemos que além de estar estourado, com cada unha de um tamanho, os dois dedões estavam brancos, enquando os outros dedos estavam pintados mais claros... nisso a Dani passou e fomos num forró, queria ir de bota, juro, mas tive que colocar uma sandalinha e dançar a noite inteira olhando para os dedões brancos... tentava disfarçar, mas sempre tem gente que dança olhando para o pé, e depois subiam a cabeça e me olhavam com uma cara estranha... deu vontade de falar que era a mais nova moda de Paris – dedões brancos, os outros dedos de renda e cada unha de um tamanho, mas fiquei quieta mesmo.
Ninguém no mundo acreditava que tinha ido ao salão fazer aquilo com meus pés... e Marildo (o nome do salão) virou sinônimo de coisa “bem feita”.
Ficam as dicas: não vale a pena economizar 5 reais e correr o risco de pegar aids!!! Nem todos os salões de Moema são chiques e, apesar de vc nunca ter desconfiado, seu cabelo pode ser afro.